Moda e Cinema – Repercussões

Ainda repercutindo na minha cabeça as palavras de Marie Rucki, sobre a relação entre moda e cinema.

A gente fala muito em moda, muito em cinema e muito nas duas coisas juntas, como se o cinema fosse apenas inspiração para o vestir. Copiar o look das atrizes, dentro e fora dos palcos e telas, parece uma obsessão das revistas de moda, especialmente aquelas que oferecem moldes e analisam looks, como a Manequim, que eu amo, e que a cada edição do Oscar traz os principais vestidos, com moldes pras formandas e debutantes de plantão copiarem.

Engraçado que isso ocorre desde que o cinema surgiu: as divas e seus vestidos. A maioria dos estilistas pegou um avião rumo a Hollywood, com a ambição de criar para aquelas mulheres, que encantavam milhares de pessoas ao redor do mundo. Quem não se lembra de Marlene Dietrich vestida de homem, com seu smoking? Ou Jean Harlow, que fez todo mundo descolorir o cabelo e inspirou Marilyn Monroe? As ondas da mexicana Rita Hayworth que fizeram todo mundo enrolar o cabelo?

 

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Marlene e sua fantasia masculina

 

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Olha a pose, olha a luz, olha o rosto e o cabelo… À esq. Jean Harlow, à dir. Marilyn Monroe.

 

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As ondas, os vestidos pretos e as luvas de Gilda, ops, Rita Hayworth

 

Podia ficar aqui citando nomes e mais nomes. Desde sempre, o cinema inspirou a moda, as mulheres e colocou muito dinheiro no bolso das grandes maisons. Longe de ser uma coisa ruim, é legal a gente ver o que as pessoas “mais influentes” do mundo da cultura estão usando. Mas o cinema, e suas atrizes, não servem só pra isso.

Mais do que simplesmente um look, ou uma peça que a gente pode copiar, o cinema pode nos inspirar a pensar. E quando a gente pensa, a gente cria, e não copia. Sai da esfera do que a gente simplesmente vê e começa a enxergar um pouco além do óbvio.

Além do óbvio é ver como a roupa representa algo oculto, na personagem e na vida, que tem que aparecer de outro jeito. Esse espírito “barroco” de tirar as coisas do lugar, de vestir de homem quem é mulher, de colocar atitudes femininas nos homens, é uma coisa que acontece muito, de um jeito mais ou menos sutil, mais ou menos explícito.

Uma das cenas que ilustra isso de forma bem clara vem do filme Vênus Loira (Blonde Venus), de 1932. É uma mulher que deve se vestir de alguma coisa, se quiser se liberar. O contraste entre a fantasia e a mulher que ali habita é gigantesca, grotesca e chega a ser repugnante para alguns expectadores (repare nas pessoas). A música também fala de libertação dos sentidos, de se deixar levar pela paixão e pelo calor, pelo vodu, pelo exótico, coisas que uma mulher estava praticamente proibida de fazer, a não ser que já tivesse tido a experiência libertadora das melindrosas de Berlim da década de 20. Mas isso já é conversa pra outra hora… Curtam a cena surpreendente, reparem nas frases da música “I wanna be dancing just wearing a smile” (essa mulher quer se libertar!!) e “Burn my clothes!” (a roupa também pode ser uma prisão socialmente definida). Depois eu volto com mais…

 

 

5 opiniões sobre “Moda e Cinema – Repercussões”

  1. Acho que a vontade de vestir o mesmo que as estrelas está ligada ao bovarysmo, que já existia com a literatura.
    A sociedade do espetáculo, surgida no século XIX, transforma o imaginário através do consumo. Os produtos tornam-se promessa de uma vida menos vazia e medíocre, e os indivíduos anseiam assemelhar-se aos personagens de ficção, assim como a Emma Bovary, do romance de Flaubert, que queria ser uma heroína igual a dos romances românticos que consumia. A busca aqui é por emoções fortes, e a inspiração num personagem sempre nasce de uma identificação em maior ou menor grau. O dilema é inspirar-se criticamente, sem se esquecer quem é, sem perder a identidade e entrar num beco sem saída…
    Mas continue refletindo que é muito interessante!

    1. Aline, adorei seu comentário!
      Emma perde totalmente sua identidade, né? A gente tem que batalhar e não se acomodar, se não quisermos perder a nossa. Uma coisa é a história na tela, outra é a vida real. E mesmo a real pode ser tão interessante (ou mais!) do que a gente vê nas telas.
      Beijinhos!

  2. Salve Renata, hoje eu estou passando à jato por aqui e “ailleurs”. Não tenho tempo de comentar sobre seu post, mas quero que você passe agora no HVA da C Guerra. Quando li, pensei em você. Eu não tenho tempo de participar, mas você tem chances de ganhar. Vai correndo que é a sua cara. Bisous apressados, Daniela – estudando contra o tempo.

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